Aos que se acham burros...

Este artigo foi escrito com base em critérios científicos e fontes devidamente pesquisadas dentro dos maiores nomes da didática e teorias de ensino. O objetivo é da simples exposição para reflexão a fim de se obter um maior entendimento dos critérios de classificação da inteligência humana.

Inteligência X Prova

A começar, um ser humano não pode ter o seu grau de inteligência determinado numa prova ou avaliação de curso. O que se pode definir de uma avaliação é apenas a capacidade que este obteve de absorver, assimilar o conteúdo proposto ao modo de romper a barreira da acomodação, a fim de atingir a equilibração, conforme a teoria de Piaget.
Para se entender melhor a teoria de Jean Piaget, nascido em 9 de agosto de 1896, na cidade suíça de Neuchâtel, a inteligência humana se manifesta a partir do momento em que passamos a construir o nosso conhecimento num aspecto geral em situações que provoquem o desequilíbrio do indivíduo no processo que transcorre em: assimilação, acomodação e equilíbrio ou equilibração.
Este é um processo contínuo, pois a vida do ser humano transcorre em torno destas mesmas questões em que precisamos sempre buscar modos de entendimento daquilo que está ao nosso redor, portanto, o ambiente passa a ter profunda influência no desenvolvimento de uma criança. Com isso, começamos a citar por Piaget que determinou estes três passos de desenvolvimento cognitivo em que todos, sem exceção alguma, passamos no desenrolar das nossas vidas.
A começar o processo, a assimilação passa a ser o momento de processamento por meios cognitivos de um determinado desafio e sobrepostos a esquemas já existentes, ou seja, é um problema dado a indivíduo a fim de que este desenvolva soluções com base em colocações existentes, ou dentro de um conceito cultural, ferramentas reconhecidas pelo meio social para possíveis soluções.
O segundo passo é o processo de acomodação. Nesse o indivíduo, com base em suas capacidades individuais, desenvolve soluções ou possíveis determinações para o problema apresentado no processo de assimilação a fim de se obter superação daquele mesmo problema. Esse processo pode determinar o quanto o aluno pode aprender na resolução do problema que o tirou da sua zona de conforto e o colocou em desequilíbrio intelectual. A forma de resolução passa a ser única de cada indivíduo, por isso não podemos determinar grau algum de inteligência, mas sim o preparo dele ou dela para o problema.
Por fim, o processo de equilibração ou equilíbrio já demonstra o indivíduo atingindo um grau de devido entendimento e com isso, constituindo uma determinação quanto ao problema. Ou seja, há um entendimento ou demonstração de que houve um perfeito entendimento ou que o processo de aprendizagem foi devidamente transmitido. Por fim, podemos concluir que o aluno, dentro das suas capacidades aprendeu o que foi proposto.
Tudo bem, mas o que isso tem a ver com a inteligência não poder ser medida por uma prova ou qualquer avaliação? Bem simples. A partir do momento que para um indivíduo obter o grau de equilíbrio é preciso que haja uma preparação para isso, uma prova só pode dessa forma determinar com exatidão se esse mesmo indivíduo obteve todos os processos com a devida eficácia durante a aprendizagem, mas não pode determinar o nível de sua inteligência. A nota atribuída apenas reflete o quanto ele foi capaz de se preparar para fazer aquela prova, seguindo as bases dos desafios propostos, mas se é ou não inteligente, uma prova não é capaz de dizer.

Brasil X Mundo

No país, temos o ENEM como forma direta de ingresso às universidades. Extinguimos, praticamente, o vestibular, porém trocamos gato por lebre. Esse método, em relação ao restante do mundo, corresponde a apenas um passo do que o indivíduo é quanto a ser aluno aspirante ao ingresso num ensino superior. Conforme artigo posto no site:
http://www.estudarfora.org.br/entenda-o-processo-de-selecao
O ingresso ao ensino superior é feito com base em todo o progresso escolar do aluno. Isso quer dizer que se você quer ter acesso a uma faculdade lá fora, basta ser um bom aluno e nada mais.
É inegável que uma prova como a do ENEM é necessária, porém não é a única forma. Para colocar isso de forma ainda clara, o próprio artigo também aponta a estranheza dos outros países quanto ao Brasil diante de sua forma de determinação de ingresso por via de vestibulares e provões a fim de determinar o devido acesso. O processo é mais complexo, porém eficaz.
A partir da premissa que hoje no Brasil, sofremos com os maus profissionais e profissionais infelizes por suas escolhas, isso se deve justamente ao péssimo planejamento que este mesmo toma ao ingressar numa faculdade. Se o indivíduo ingressa a fim de ganhar dinheiro apenas, já comete um erro, pois a cultura daquela faculdade pode não corresponder a essa via de pensamento. O ponto é que ingressar por motivos diferentes ao de apenas gostar daquilo que faz, pode trazer prejuízos profissionais e sem contar a incapacidade do aluno de se adaptar aos conceitos que a faculdade escolhida o trás, causando em abandono, trancamento e, em caso de conclusão, insatisfação e/ou frustração profissional.
Enquanto que nos Estados Unidos, por exemplo, são feitos processos para mostrarem ao aluno justamente a cultura daquela profissão e a faculdade mediante ao seu posicionamento no mercado de trabalho. Quer dizer que o aluno deve fazer uma redação sobre o porquê de ter o interesse em determinada faculdade, além de ter seu histórico escolar analisado, enquanto aluno de ensino médio/ fundamental. Isso sem contar na entrevista, servindo para apenas reforçar seu posicionamento quanto a esse desejo.
Entende que o processo desencadeia um efeito dominó? Se as universidades brasileiras exigissem de seus alunos um melhor desempenho nas escolas, não teríamos o triste fato de mais de 500 mil pessoas zerarem a prova de redação do ENEM, por exemplo. Entende que esse tipo de procedimento desencadearia um melhor investimento na qualidade de ensino, facilitando o processo citado acima do Jean Piaget para aprendizagem e despertar da inteligência?
O site citado acima foi apenas uma forma de exemplificar e embasar o que já foi exposto. Sem preparo, não há ensino e sem ensino não há desenvolvimento de intelecto algum. A partir do momento em que realizamos a ruptura do processo de aprendizagem, rompemos também com a capacidade do aluno de pensar, realizar tarefas cognitivas e de também realizar sua capacidade de expressão o que gerou também o péssimo resultado que o governo faz questão de dizer que ainda foi bom.
Com tudo isso, vivemos uma dicotomia entre o Brasil e o Mundo. Será que o ensino brasileiro está certo e o resto do mundo não? A falta de preparo, investimento e devida qualidade não seriam as causas para notas ruins? Isso sem contar, que devido a tudo isso, qual aluno ainda despertaria interesse em aprender, sabendo que o seu futuro já está definido? Há exceções, mas é triste dizer que é minoria diante de muitos conformados. Portanto, a culpa é de todos. Dos alunos, mas também daqueles que preparam esses alunos, inclusive e principalmente, os que investem nos preparadores.
Aqui fica a pergunta, o que isso tem a ver com inteligência? Conforme já citado, sem preparo, não há ensino e sem ensino não há desenvolvimento de intelecto. Alunos que não pensam, não se expressam, não raciocinam, não são alunos burros, mas sim, apenas alunos mal preparados.
Isso tudo é colocado para levantar em questão se é válido apenas avaliar um aluno por via de uma prova, quanto ao processo de aprendizagem que este passou nas escolas públicas brasileiras e até mesmo nas privadas. A verdade que dói é que estamos cometendo assassinatos intelectuais a todo momento em que preparamos os alunos mal por não compreender nenhum dos processos cognitivos de toda criança, adolescente e adulto.

Piaget X Paulo Freire

Foi citado apenas Piaget, mas temos diversos outros pesquisadores, entre eles o brasileiro Paulo Freire que também coloca o processo cognitivo de aprendizado por via de ensinamento com base no ambiente que o indivíduo vive enquanto sociedade. Ele, frisou a necessidade de fazer com que o aluno seja um ser pensante, questionador mediante ao seu meio e com isso despertar nele o processo cognitivo da acomodação, isto é, arrumar suas ideias, pensamentos ao modo de que se faça entender seu pensamento diante do mundo.
Para quem não sabe, Paulo Freire (1921-1997), foi um educador de alfabetização para adultos com trabalhos reconhecidos nacional e internacionalmente. Foi responsável por aprofundar o ensino como não sendo apenas uma questão de assimilação, acomodação e equilibração, mas também por mostrar que o aluno pode e deve com base no seu conhecimento próprio, questionar, pensar e interagir de modo a expor sua forma de opinião e expressão.
Isso em relação a parcela desfavorecida, cujo destino é traçado desde cedo, o ensino pode ser usado como um agente transformador ao modo de despertar nesse aluno a sua capacidade de questionar sua situação, a fim de buscar por meios possíveis sua possível ascensão ou não na sociedade. Claro que o pensamento de Freire era não só de conscientizar, mas também de fazer com que o aluno, entendendo sua situação, logo passe a lutar por formas de sair ou vencer sua "moira" pessoal.
Novamente a pergunta: Mas o que isso tem a ver com inteligência? Simples. Um aluno que não pensa, não questiona e não interage, simplesmente não se desenvolve como um ser atuante em prol de buscar pelo seu crescimento pessoal e com isso estagna perante a sociedade competitiva e moderna de hoje, o que mais uma vez, uma prova ou avaliação não pode devidamente determinar o seu devido grau, mas apenas a sua capacidade.

Inteligência X Multiplicidade de Conhecimento

Outro grande pesquisador que foi a fundo e mostrou o quão complexa é a capacidade humana quanto a sua inteligência foi o cientista norte-americano Howard Gardner, nascido em 11 de julho de 1943, em Scranton, Pensilvânia, EUA. Ele foi o autor ou, assim considerado, pai da teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida em 1980, trazendo grandes avanços quanto a compreensão do que é ser inteligente.
Gardner é autor de cerca de 20 livros sobre a teoria de que o ser humano possui mais de um tipo de inteligência e que, portanto, os processos de aprendizagem também devem ser individualizados. Suas ideias causaram grande impacto nos anos 1980, justamente por apresentar um caminho contrário ao do padrão de avaliação de inteligência mais aceito até então, o QI. “Poucos gênios são gênios em tudo. Einstein era um gênio matemático, Shakespeare era um gênio linguístico. Nós temos todos os potenciais, mas alguns são mais desenvolvidos”, exemplifica Celso Antunes, geógrafo, especialista em inteligência e cognição.
Para basear a sua teoria, Gardner avaliou o trabalho de gênios – como o músico Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) e o físico Albert Einstein (1879 - 1955). Ele acreditava que as pessoas possuíam tipos de inteligência diferentes e usou os casos para justificar sua teoria e estabelecer os perfis, que hoje são oito. A ideia principal da Teoria das Inteligências Múltiplas é a de que possuímos habilidades diferenciadas para cada tipo de atividade e, portanto, possuímos mais de um tipo de inteligência, embora todos os tipos estejam interligados.

Veja quais são as inteligências segundo Gardner:

1. Lógico-matemática – Pessoas com essa inteligência mais proeminente desenvolvem mais facilmente habilidades em Matemática e em raciocínios lógico-dedutivos.

2. Linguística – Os indivíduos com amplas habilidades em escrita, leitura e em aprender idiomas, por exemplo, têm este tipo de inteligência mais desenvolvida.

3. Espacial – Este tipo de inteligência está ligado à habilidade de lidar com objetos do concreto e sua localização.

4. Físico-cinestésica – As pessoas que têm grande aptidão para controlar os movimentos do corpo possuem este tipo de inteligência mais desenvolvida.

5. Inter e intrapessoal – Refere-se à capacidade de entender a si mesmo e ao outro, relacionar-se bem e ser comunicativo.

6. Musical – Aqui estão as pessoas que possuem grande aptidão para tocar instrumentos musicais.

7. Natural – Este tipo de inteligência contempla o desenvolvimento de habilidades biológicas e de entendimento da natureza.

8. Existencial – Engloba as capacidades filosóficas, de refletir sobre a própria existência.

O ponto é que todos nós, como seres humanos, possuímos acesso a todos os tipos de inteligências citadas por Gardner. Um gênio de fato não é gênio em tudo, mas sim em pelo menos uma dessas formas de inteligência que possuímos e assim consegue obter devido destaque por justamente demonstrar maior aptidão para tal capacidade. Além disso, o meio em que vivemos, as experiências de vida e, é claro, a vontade de aprender são os fatores que predominarão se iremos ou não desenvolver nossa capacidade intelectual.
Agora, cabe perguntar, a inteligência humana é o quê afinal? Enfim, a inteligência humana está compreendida na capacidade que cada um possui dentro daquilo que gosta de fazer, por motivos do ambiente ter influenciado ou de ter convivido com um agente influenciador, um professor bem intencionado, por exemplo. O interesse em aprender e a capacidade de desenvolvimento sim é que podemos considerar como inteligência humana e uma prova ou avaliação só pode apenas determinar quanto o aluno aprendeu e nada mais.
Isso justamente porque o mesmo aluno pode ter aptidões para áreas bem específicas que, infelizmente, numa escola brasileira, não são exploradas. A área lógica e a verbal tem sua devida atenção, mas as outras aptidões sofrem com o seu devido desprezo e falta de atenção,sendo que esse mesmo aluno pode ser apto justamente nessas áreas como a natural e/ ou a existencial ou filosófica.
Só com isso, avaliações como o famoso teste de Q.I. (quociente de inteligência) deixam de ter sua eficácia, servindo apenas para ser um medidor da capacidade intelectual do aluno para apenas uma das múltiplas inteligências que um ser humano possui, tornando-os ineficazes quanto aos seus devidos aspectos de determinação de grau de inteligência.
Para terminar, o objetivo do artigo é o de simplesmente fazer pensar se vale a pena continuar criticando o próximo quanto a sua inteligência diante de uma prova zerada. Antes de criticar, temos que avaliar qual processo esse aluno sofreu e que tipo de preparação ele obteve e mesmo assim não podemos classificar ninguém mais como burro, mas sim um aluno que foi mal preparado para uma avaliação.

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