O Verde, o Amarelo, o Negro e o Marrom

Numa saída de casa, indo pela rua
Vi um pai à procura por sustento
Falta o saber pro filho e um acalento
E falta o leite pra filha, ai a verdade crua.

Caminhei pela praça do Catumbi
Sentei no banco ao meio e vi o céu negro
Vi várias cotas, vários achismos
Vários gritos e falta de consciência
Vi um bate e volta, vi a intolerância.

E pela Rua Itapiru
Vi traços cortando o ar em silêncio
penetrando as almas de gente boa
Vi mães gritando e filhos calados
Vi fardas e desfardas andarem armados.

Vi no Rio de Janeiro a desigualdade
Um grito no nada pela insalubridade
Vi furtos à surdina e ninguém falar nada
Vi jovens com proibidões, não pensarem nada.

No Largo do Rio Comprido eu vi
O céu negro apanhar em palavra
Liberdade de Áurea ele teve
Mas sociedade de abrigo e igualdade...

Vi no estado do Rio a calamidade
Vi em Mariana o ferro, o zinco e o cobre
Vi falta d'água, falta de luz, falta de amor
Vi o doce virar amargo encoberto de lama
Vi a solidariedade e a indiferença lado a lado.

Ainda vejo a renda em nada render
Vejo um dólar de direita, tudo bater
Vejo a pobreza em tudo ganhar
E em nada eu vejo aqui melhorar.

Vejo o Brasil no sul se perder
Vejo no norte em tudo se abater
Vejo no leste em tudo se furtar
Vejo no oeste a porta se fechar.

Num andar pelo Brasil eu vi o verde
Vi o amarelo e hoje eu vejo o marrom
Vejo tudo e em todos esse mesmo tom
Pois de doce só mesmo o amargo sobrou.

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