Memórias Póstumas de um Morto




Ai de mim! Ai que sua foice não me corta!
Ai de mim, mundo meu, que não consigo sair!
Ai de mim! Que o coração desfalece em porta
De boca de inferno pelo meu erro de pedir!

Ai de mim que não olha mais para o céu
Que não percebe a beleza de ter calma!
Ai de mim que não tenho mais uma alma!
Ai de mim que o rosto escondi, pus um véu!

Ai de mim que meus pés cansados não andam mais!
Ai de mim que o pulmão falha e implora por jamais
Ter a obrigação de funcionar todo dia do mesmo jeito!
Ai de mim que não há perfeição, somente um ser imperfeito!

E sua foice não chega para me cortar!
Todo mundo leva um corte, só eu que não!
Todo mundo sofre, só eu que tenho sorriso a portar!
Todo mundo não luta, só eu que luto em vão!

Ai de mim que a infância teve um derrame!
Aquele tempo de não saber da vida!
Aquele tempo cortado de mim em despedida!
De encontros e despedidas e uma dose de vexame!


Ai de mim que a adolescência enfartou!
Aquele tempo de paixões e amores, vida louca!
Aquele tempo de cantar para o vento com voz rouca!
Que numa overdose de tequila destilada me largou!

Ai de mim que sua foice não chega a me cortar!
Ai de mim que, por medo, curvo a cabeça em respeito!
Pois a barba e os poucos cabelos me botam a pensar
Na felicidade imaginária do épico e tenro feito
De sorrir, mesmo em um momento de morte.

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